AMBIGUIDADE.
A leitura de textos humorísticos
também permite que se explorem o duplo sentido, a ambiguidade provocada pela
homonímia, pela polissemia e pela
paronímia. Segundo Travaglia (1989: 60), a ambiguidade é um recurso básico no
humor devido à bissociação, que “consiste em, por recursos diversos, ativar
dois mundos textuais” (TRAVAGLIA, 1995, p. 43).
Vejamos alguns exemplos de textos de humor,
pertencentes a diferentes gêneros, que exploram esse recurso:
CONCERTO OU CONSERTO?
O português foi convidado pelo amigo brasileiro para
assistir a um concerto de piano. No intervalo do espetáculo o amigo pergunta ao
português:
– E aí? Está gostando do concerto de piano?
– O gajo toca tão bem que eu nem havia percebido que o
piano estava quebrado!(AVIZ, 2003, p. 153)
O menino que chupou a bala errada
Diz que era um menininho que
adorava bala e isto não lhe dava qualquer condição de originalidade, é ou não
é? Tudo que é menininho gosta de bala. Mas o garoto desta história era tarado
por bala. Ele tinha assim uma espécie de ideia fixa, uma coisa assim... assim,
como direi?
Ah... creio que arranjei um bom
exemplo comparativo: o garoto tinha por bala a mesma loucura que o senhor
Lacerda tem pelo poder.
Vai daí um dia o pai do menininho
estava limpando o revólver e, para que a arma não lhe fizesse uma falseta,
descarregou-a, colocando as balas em cima da mesa. O menininho veio lá do
quintal, viu aquilo ali e perguntou pro pai o que era.
– É bala – respondeu o pai,
distraído.
Imediatamente o menininho pegou
diversas, botou na boca e engoliu, para desespero do pai, que não medira as
consequências de uma informação que seria razoável a um filho comum, mas não a
um filho que não podia ouvir falar em bala que ficava tarado para chupá-las.
Chamou a mãe (do menino), explicou
o que ocorrera e a pobre senhora saiu desvairada para o telefone, para
comunicar a desgraça ao médico. Esse tranquilizou a senhora e disse que iria
até lá, em seguida.
Era um velho clínico, desses
gordos e bonachões, acostumados aos pequenos dramas domésticos. Deu um laxante
para o menininho e esclareceu que nada de mais iria ocorrer. Mas a mãe estava
ainda aflita e insistiu:
– Mas não há perigo de vida,
doutor?
– Não – garantiu o médico: – Para
o menino não há o menor perigo
de vida. Para os outros talvez.
– Para os outros? – estranhou a
senhora.
– Bem... – ponderou o doutor: – O
que eu quero dizer é que, pelo menos durante o período de recuperação, talvez
fosse prudente não apontar o menino para ninguém.
(PRETA, 2003, p. 89-90)
O primeiro texto, uma piada, explora
a homonímia conserto/concerto, reforçando o estereótipo de que portugueses são
pouco inteligentes. É a interpretação equivocada do personagem lusitano que é
responsável pela graça da piada.
No segundo texto, uma crônica de
Stanislaw Ponte Preta, é explorada a polissemia do vocábulo bala. Quando o
filho e o pai conversam, cada um aciona um significado diferente da palavra
bala, e é esse desencontro entre as expectativas de cada um que gera o equívoco
entre os dois.
http://www.filologia.org.br/xiv_cnlf/tomo_1/514-%20527.pdf fonte.
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